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Arte:
Presente sem prazo de validade

                                                                                     Marcelo Lapola
 

Ao entrar na casa-ateliê na tranquila zona sul de Rio Claro logo se tem a nítida sensação, boa, de que ali se respira arte. Amplos espaços entremeados de esculturas, em sua grande maioria retratando o corpo feminino e suas infinitas possibilidades espaciais dão o tom do ambiente onde essa arte é intuída, pensada e praticada.

Casa- ateliê ou ateliê-casa não importa. Como a própria artista gosta de definir, preferiu assim pois sua arte nunca está dissociada do cotidiano. Para Cris Koelle, reconhecida muito mais por suas obras que pelo simples culto personalista que a mídia tende a encerrar uma artista deste quilate, a criação depende da presença do dia a dia como ele é em uma casa. Não se separa do mundo para conceber suas esculturas.
 

Seu estilo, tido aos olhos menos treinados como convencional, guarda uma multiplicidade de paradoxos, entre eles o da leveza profunda concebida em matérias-primas pesadas como os metais e as resinas – um de seus trabalhos mais conhecidos é a minúscula mulher em bronze pousada em uma taça de vidro. Artista plástica por formação e definição, Cris Koelle põe também sua criatividade a serviço de grandes empresas na confecção de refinados presentes decorativos, como as esculturas da série Fly entregues durante a inauguração da nova sede das Federações das Unimeds ou, o mais recente em um evento da empresa Bombril, e ainda trabalhos sempre requisitados pelo Banco Real.

Esse tipo de trabalho marca de maneira atemporal o que com o passar do tempo na cabeça dos convidados e envolvidos se transformaria em uma simples ocasião perdida em um canto da memória. É muito mais que uma simples “lembrancinha”, convidados levam arte para casa, sem prazo de validade e muito além do simples enfeite, carregada de definições que se transfiguram ao longo do tempo.

De uma carreira que teve início na década de 70 até a criação de obras para importantes clientes, Cris Koelle afirma nunca ter deixado de lado o fazer artístico, intuitivo e inconsciente por excelência, mesmo quando as obras são por encomenda e em série.

Se um dos aspectos mais importantes da Arte com A maiúsculo é justamente a subversão das formas e gestos comuns, no caso de Cris Koelle esse fundamento, que a diferencia do pseudoartístico serial, toma proporções impressionantes, pois contraria a própria ideia do lugar-comum. Para se ter uma ideia desse aspecto forte em sua obra basta dar uma passadinha pelo site criskoelle.com e contemplar. Um bom exemplo disso são três pequenas mulheres esculpidas sustentando por encaixe nobres madeiras nativas que servem como perfeito pingente. A peça integrou com outras tantas a aclamada exposição”JOIAS do BRASIL – Inspiradas na Natureza”, em Londres

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 A “Arte para Usar” de Cris Koelle equilibra o refinado, sem ser indefinível, o comum, sem se tornar óbvio e o movimento, sem o exagero do malabarismo impossível.

Melhor que ter as obras de Cris Koelle ao alcance dos olhos e das mãos é dar ou recebê-las de presente. Para quem ganha uma de suas esculturas, a experiência se renova a cada olhar pois são peças repletas de signos e conceitos, ou nas palavras da artista”um presente para sempre

”.

JC MAGAZINE
junho a novembro de 2005